De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” 17/12/1914 - Rui Barbosa

O BLOG

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Verdades que chegam e vão!!


COMENTÁRIO

A quarta cópia, por Ricardo Noblat

Dá-se a prudência como característica marcante dos mineiros.
Teria a ver, segundo os estudiosos, com a paisagem das cidadezinhas de horizonte limitado, os depósitos de ouro e de pedras preciosas explorados no passado até se esgotarem, e a cultura do segredo e da desconfiança daí decorrente.
Não foi a imprudência que afundou a vida de Marcos Valério. Foi Roberto Jefferson mesmo ao detonar o mensalão.
Uma vez convencido de que o futuro escapara definitivamente ao seu controle, Valério cuidou de evitar que ele se tornasse trágico.
Pensou no risco de ser morto. Não foi morto outro arrecadador de recursos para o PT, o ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André?
Pensou na situação de desamparo em que ficariam a mulher e dois filhos caso fosse obrigado a passar uma larga temporada na cadeia. E aí teve uma ideia.

 

Ainda no segundo semestre de 2005, quando Lula até então insistia com a lorota de que mensalão era Caixa 2, Valério contratou um experiente profissional de televisão para gravar um vídeo.
Poderia, ele mesmo, ter produzido um vídeo caseiro. De princípio, o que importava era o conteúdo. Mas não quis nada amador.
Os publicitários de primeira linha detestam improvisar. Valério pagou caro pelo vídeo do qual fez quatro cópias, e apenas quatro.
Guardou três em cofres de bancos. A quarta mandou para uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo agora julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias. Se Valério for encontrado morto em circunstâncias suspeitas ou se ele desaparecer sem dar notícias durante 24 horas, Renilda sacará dos bancos as três cópias do vídeo e as remeterá aos jornais O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo. (Sorry, VEJA!)
O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia.
Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho.
A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava.
Daí para frente, sempre que precisou de ajuda ou consolo, foi socorrido por um emissário do PT. Na edição mais recente da VEJA, Valério identifica o emissário: Paulo Okamotto.
Uma espécie de tesoureiro informal da família Lula da Silva, Okamotto é ligado ao ex-presidente há mais de 30 anos.
No fim de 2005, um senador do PT foi recebido por Lula em seu gabinete no Palácio do Planalto. Estivera com Valério antes. E Valério, endividado, queria dinheiro. Ameaçava espalhar o que sabia.
Lula observou em silêncio a paisagem recortada por uma das paredes envidraçadas do seu gabinete. Depois perguntou: "Você falou sobre isso com Okamotto?"
O senador respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Acionado, Okamotto cumpriu com o seu dever. Pulou-se outra fogueira. Foram muitas as fogueiras.
Uma delas foi particularmente dramática.
Preso duas vezes, Valério sofreu certo tipo de violência física que o fez confidenciar a amigos que nunca, nunca mais voltará à prisão. Prefere a morte.
Valério acreditou que o prestígio de Lula seria suficiente para postergar ao máximo o julgamento do processo do mensalão, garantindo com isso a prescrição de alguns crimes denunciados pela Procuradoria Geral da República.
Uma eventual condenação dele seria mais do que plausível. Mas cadeia? E por muito tempo?
Impensável!
Pois bem: o impensável está se materializando. E Valério está no limiar do desespero.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Eliana Calmon: A Justiça depois do mensalão





A ministra deixa a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça certa de que acondenação dos mensaleiros vai levar à tolerância zero com a corrupção nos tribunais brasileiros
Eliana Calmon é capaz de ficar horas e horas falando sobre culinária. Sua especialidade mais admirada, porém, é outra. Há dois anos, ela assumiu o cargo de corregedora doConselho Nacional de Justiça (CNJ) prometendo combater com rigor os desmandodos juízes. Não era promessa de político. Antes disso, já tinha se envolvido em sonoras brigas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao denunciar que alguns de seus colegas faziam conchavos para interferir na escolha dos novos integrantes da corte e, assim, influir em suas futuras decisões. No CNJ, a ministra apontou a existência de "bandidos escondidosatrás de togas", generalização que atraiu sobre ela a ira da categoria. Sob seu comando foiaberto um número recorde de processos para apuraa conduta irregular de juízes. Nasemana passadaantes de deixar o cargo de corregedora e voltaao STJ, a ministra fez aVEJA um balanço de sua gestão.
O julgamento do mensalão terá algum impacto sobre a Justiça brasileira como um todo?Esse é um julgamento de importância fundamental para o Brasil, porque toda a nação está examinando como se comportará o Poder Judiciário. O Judiciário também está sendojulgado. Esse julgamento vai refletir o que é a Justiça brasileira. Os ministros podem condenar ou absolver, mas terão de mostrar com clareza por que estão condenando ouabsolvendo. Isso está sendo feito.
O rigor que os ministros do Supremo têm demonstrado com relação à corrupção reflete uma mudaa de parâmetros? O Supremo faz com que a magistratura se enquadre num novo modelo. Toda carreira — e a magistratura em especial vive de lição e exemplo. Temos de ser exemplo para as pessoas que estão abaixo de nós. No momento em que o Supremo ensina a lição e dá exemplo, vira referencial. O juiz de comarca passa a ter referência,admiração, e passa a trabalhar para se igualar àqueles que ele admira no topo dahierarquia. Quando o Supremo faz um julgamento técnico, sério e até rápido, com votos compreensivos, como tem sido neste caso, isso transmite credibilidade ao povo brasileiro. O Supremo está dizendo que a corrupção, que durante dois séculos reinou neste país, a partir de agora tem um freio, e esse freio está no Poder Judiciário. Não haverá mais tolerânciacom a corrupção. Não tenho dúvida de que isso já está provocando mudaas nos planos de certos bandidos, inclusive os de toga.
Por que essa atitude mais proativa em defesa do bem público demorou tanto a chegarao Poder Judiciário? A Justiça não se apercebeu das mudaas que a Constituição trouxe. Na medida em que o Judiciário não tem consciência de seu papel, vira o chanceladodo que os outros poderes decidem. O Judiciário demorou a perceber que tem poder próprio e não deve funcionar como extensão dos outros poderes.
A senhora deixa o Conselho Nacional de Justiça mais assustada ou mais aliviada?Conheci as entranhado Poder Judiciário e pensei que a situação estivesse melhor. NaCorregedoria, eu vi a Justiça em uma situação muito negativaA gestão, por exemplo, aindaé muito ruim. Mas saio aliviada porque me aproximei muito dos tribunais, que perceberam que com boa gestão é possível melhorar. Não digo que fiz um saneamento, mas fiz parceriacom os presidentes dos tribunais. São Paulo é um exemplo que me deixa maravilhada. Eraum tribunal fechado, que nunca aceitou o CNJ, mas no fim conseguimos avaar. É preciso eliminar de vez o patrimonialismo e o compadrio. Alguns tribunais até hoje fazem favores ao governador, e o governadoarruma emprego para parentes de juízes.
A senhora gerou uma crise sem precedentes no Judiciário quando disse que há bandidos escondidos atrás de togas. Eles existem mesmo? É claro que há bandidos de toga. É só olhar o número de juízes afastados por improbidade, olhar o número de investigações instauradas nos últimos tempos. Os números são grandes. Olhe que a Corregedoria do CNJ tem uma estrutura pequena para tantos problemas, e não temos condições de descobrir tudoAquilo que eu falei, e não foi generalizando, falei numa linguagem forte para mostrar que muitas vezes as pessoas querem se esconder atrás da toga porque buscaa proteção que o cargo dá. Na verdade, eu acabei sendo intérprete da consciência coletiva.
Qual foi a parte mais difícil do trabalho da senhora como corregedora? A função disciplinar é difícil porque há uma grande resistência por parte daassociações de juízes. O corporativismo é forte. Ainda pensam que, se acharmos corrupção, temos de resolver aquestão internamente, sem levá-la ao conhecimento da sociedade. Eu penso diferente. Nós temos, sim, de levaas mazelado Judiciário ao conhecimento da sociedade. Uma das punições é justamente essaAté porque a legislação que trata de punições a juízes é muitoantiga. Por elaa punição máxima para um desembargador é a aposentadoria. Se não for uma falta gravíssima, ele ficará sem punição. Daí eu acho que uma das penas mais temidas é a divulgação daquilo que for constatado.
Qual é o perfil desses “bandidos de toga a que a senhora se refere?Obviamente não estou afirmando que todos os juízes que dizem só falar nos autos são bandidos, mas o criminoso de toga tende a